1940... Hitler tinha invadido a Polónia e.. despoletou o . inicio da 2ª guerra mundial ,que fragilizou toda a Europa em conflito, em cuja contenda Salazar ,habilmente,. manteve a neutralidade portuguesa.
No cais de Alcantara, em Lisboa, dois irmãos ( eu de 12 anos e meu irmão de 10) tínhamos sido conduzidos a bordo do vapor "Angola", por mão do saudoso e Santo, Tio Rogério, que nos instalou em cabine de primeira classe!.
No cais, os lenços brancos dos nossos Familiares, acenavam-nos, com lágrimas nos olhos, como despedida -nalguns casos para sempre - pois o navio ja desatracava rumando ao porto de Luanda, nosso destino para acolhimento de nosso Pai, já falecido também.
Lembro-me que seriam talvez sete horas da tarde, a meio do ano, quando o navio, ja perto do Buzio, na foz do Tejo, lançou ancoras e, assim esteve parado até ao romper do dia seguinte. A razão dessa paralizaçao, de certo modo inesperada, foi-nos explicada já quando o navio navegava com destino a cidade do Funchal (Madeira) : - havia o receio de sermos torpedeados por um contratorpedeiro alemão que rondava as costas portuguesas...
Sem quaisquer incidentes (felizmente !) acabamos por fundear, dias depois, ao largo da cidade do Funchal, pois na época ainda não havia cais acostável. Presenciamos, enquanto o barco esteve ancorado, as visitas dos vendedores de lindos artigos madeirenses e... os saltos dos mergulhadores que do alto dos mastros do navio se lançavam para o mar tranquilo madeirense... a troco de alguns "escuditos"...
E, no dia seguinte, de madrugada, as hélices do barco ja rolavam a caminho da ilha de S. Tomé.
Nessa assombrosa e vegetativa ilha, no Atlantico, tambem ancorado ao largo, éramos visitados, de bordo do barco (pudera...) por monstruosos tubarões que rondavam o casco do vapor em busca de alimentos que eram lançados pelas cozinhas
Antes de ancorarmos na baía de Luanda, o navio abasteceu-se de carvão na foz do Rio Zaire, Santo António do Zaire (Cabinda)..
Quinze dias após a largada de Lisboa, chegámos, finalmente a baía de Luanda, onde avistamos os nossos Familiares que se aproximavam das escadas de acesso ao navio, vindos nos "gasolinas" que os trasnsportava a partir do antigo cais de embarque, flutuante, existente logo a entrada da cidade.
Foi ponto de partida para que durante vinte anos,, nunca mais tivesse visto uma papoila, um ramo de oliveira, um carro eléctrico, inexistente na minha terra de nascimento...Luanda- ; pois, só decorridos vinte anos é que voltei a visitar os Familiares residentes na Metrópole.
Entretanto as árvores que eu deixara em fase de " sementeira", cresceram, cresceram, e dos seus frutos recebi o agradável ABRAÇO de BOAS VINDAS....
Era assim, em tempos que já lá vão...