Onde estava eu no 25 de Abril de 1974? Se a memória não me atraiçoa, fruto da idade de quase nove décadas e de um esgotamento nervoso e psicológico que me afectou e levou, inclusivamente, a um processo de reforma antecipada, estaria nessa altura em Luanda, Angola, no edifício do Banco Totta-Standard de Angola, anexo ao Banco de Angola, desempenhando as minhas funções como bancário e contabilista.
Recordo-me que foi com grande surpresa que fomos tendo conhecimento, via rádio, do que se passava na Metrópole, mas concretamente em Lisboa. As expectativas eram confusas. Uns imaginavam que tudo não passaria de um fogacho e que a revolta seria rapidamente esmagada, outros, entusiasmados com a ideia de um regime de liberdade e livre expressão, acreditavam na instauração de um novo regime. Discutiam-se preferências políticas, ideias para o futuro, mas, no geral, nunca conseguindo antever o processo de "exemplar descolonização" que se iria seguir e que a tantos deixou com tão pouco, fazendo perder o património e poupanças de uma vida.
Tudo parece hoje muito longínquo, difícil mesmo de recordar, quase como se fosse a memória de um sonho. Talvez não passe mesmo disso, de um simples sonho...
Mas há os contrastes filosóficos da vida...
Na tarde solarenga do dia 26 de Abril, mas já do ano 2016, portanto 42 anos após a revolução que acabou por nos "afogar num Exílio Forçado", principalmente aos que sempre lutaram, na vida, para que a sua terra Natal (Angola) atingisse o topo superior do vértice da pirâmide, em matéria de esplendorosos êxitos de progressos e feliz convivência, dada a sensação, sempre de tristeza, de um isolamento e solidão, por nos ter faltado quem mais amávamos na vida, e que após sessenta anos de um feliz matrimónio nupcial, Deus chamara à sua Divina Presença, apoiado na minha "muleta", dirigi-me à esplanada do famoso café "Kubo caffe", junto a uma rotunda, em Olhão, por onde circulam milhares e milhares de viaturas, por dia, com destinos incomensuráveis.e, puxando de uma confortável cadeira, sentei-me sozinho numa mesa, solicitando à encantadora Empregada, um carioca de limão. para passar o tempo, sossegadamente.
Contudo, sentadinho lá num cantinho da sala, fui notando que ao redor das inúmeras mesas, muitos clientes ( Damas e Cavalheiros) conversavam entre si, e, o silêncio era sempre quebrado pelas assustadoras vozes da maioria dos Homens ( e por vezes das Senhoras), que, conversando, e em voz alta, pareciam sempre zangados, e que iam contando, acompanhando sempre com gestos ameaçadores, peripécias e "atropelos" de que se sentiam vitimas inocentes do que se passara quando conversavam em anteriores reuniões "amigáveis"... Mas acho que era tudo só fantasia. pois era a própria maneira das pessoas falarem, e discutirem, mas sem intenções de animosidade alguma. Os gestos eram, afinal, tudo... espectáculo .... mas muito agressivos e assustadores ! Era tudo Boa Gente.. Ali não havia nem canhões, nem balas, nem bombas e nem espingardas... Não passava tudo só de inocentes gestos explicativos...
Não admira!. Vejam só, quando ligarem as televisões,... é só vermos gente zangada que surge nos seus programas... é influência colectiva !...
Tá?!...
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