Esta sensação de que a vida naquele tempo, seja qual for esse tempo, é que era boa, não me larga. Certamente muitos me chamarão "chato" por estar sempre a falar da mesma coisa, mas a verdade é que os dias decorriam de outra forma, sem aquela ansiedade de tentar perceber o que iria fazer naquele dia. Sem computadores, Internet, facebooks, telemóveis e mais de duzentos canais na televisão (cuja maioria jamais vemos), a vida corria mais lentamente, sem aquele sentimento de que estávamos a perder alguma coisa.
Hoje temos muito mais do que aquilo que necessitamos. O material é valorizado muito acima do sentimental e, no entanto, vivemos permanentemente insatisfeitos. Isto deve-se provavelmente ao facto de, apesar da procura constante do bem material que, esperamos, irá satisfazer aquele vazio, esquecermos o bem mais precioso, escasso e não renovável que é o TEMPO. Vivemos numa vertigem permanente, sempre com pressa para ir a algum lado sem nunca lá chegar.
Noutros tempos, sem o facebook e outras ilusões de realidade virtual, as pessoas viam-se obrigadas a conviver, conversar e olhar olhos nos olhos, costume tão em desuso nos dias que correm e que para os mais jovens é mesmo desconhecido. Ouço dizer que têm mais de mil amigos e fico surpreso mas rapidamente me apercebo que tudo não passa de uma ilusão criada por mentes cada vez mais solitárias.
Noutros tempos as crianças e jovens saiam de casa, brincavam na rua, conversavam e riam. Hoje, permanecem entre quatro paredes, mentindo a si próprios, vivendo uma vida cada vez mais parecida com a de um vegetal que, impossibilitado de se mover, permanece no mesmo lugar toda a sua vida.
Consequência dessa insatisfação, surgem notícias de que as pessoas andam cada vez mais deprimidas, dependentes de químicos receitados pelo médico apenas para conseguirem suportar o facto de estarem vivas. Depois, surgem notícias de uma mãe ou de um pai que matou os filhos apenas por não suportar a ideia da vida. Que civilização é esta em que uma mãe prefere a morte dos seus filhos porque viver é insuportável ?
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Uma família destroçada... |
Desculpem estes desabafos, próprios de um Velho do Restelo Grisalho, triste e cansado, muitas vezes angustiado com as premonições que, qual Nostradamus, vai vendo reveladas perante os seus olhos cansados. Apenas resta ter esperança e que o dia de amanhã possa ser melhor do que o de hoje...
Tá?!...
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