Há dias recebi uma mensagem de correio electrónico que dava conta de uma entrevista de Sua Excelência, ex-Presidente da República e ex-Primeiro Ministro de Portugal, o Dr. Mário Soares. Nesta entrevista o referido Senhor gabava-se de ter tido a honra de ter participado no processo de descolonização.
O remetente original da notificação tece alguns comentários, cuja responsabilidade a ele, ou a ela, cabe e que passo a reproduzir:
Atinge o expoente máximo da sua psicopatia quando afirma que os brancos se assustaram e fugiram, mas esqueceu-se de dizer que o MPLA perseguiu, prendeu e matou muitos desses brancos, e sempre sobre a protecção da tropa portuguesa (comunista na altura). Esqueceu-se de dizer que passou por cima dos Acordos de Alvor e que entregou unilateralmente Angola ao MPLA - culminando numa sangrenta guerra civil, que perdurou durante mais de 30 anos. Esqueceu-se de dizer que muitos dos brancos angolanos, que não eram cobardes como ele, foram traídos pelos "revolucionários" de Abril, mas que mesmo assim ainda se organizaram em grupos de resistência. Esqueceu-se também, que estes resistiram unicamente para tentar defender o direito de serem angolanos, embora tenham sido rapidamente rastreados e silenciados pela própria tropa portuguesa (comunista). Esqueceu-se de dizer o quanto ganhou com a venda das províncias ultramarinas aos interesses internacionais (tanto comunistas como capitalistas). Enfim, com tanta propaganda inventada e amnésia selectiva, é sempre fácil ser-se um herói tanto em Portugal como no Mundo. Até ver. (Ombuto)
Não vou elaborar muito mais. A história acabará por falar por si e eventualmente factos que foram escamoteados para esconderem interesses pessoais virão ao conhecimento público.
Vivemos uma época de liberdade, pelo menos é o que nos querem fazer crer. Subsistimos sob a capa de um regime democrático. Este encerra interesses que, em grande parte, subvertem a lógica e a noção do que é a democracia. Dizem que a PIDE não existe mais, mas a verdade é que nunca fomos tão controlados como agora. Quando compramos algo num supermercado e pedimos uma factura, imediatamente o Big Brother das Finanças sabe onde andamos a gastar os nossos trocos, a pretexto de um sorteio de automóveis de luxo, os quais a maioria das famílias portuguesas nem tem sequer capacidade para manter nos dias que correm. No preciso momento em que publico estas palavras, criar-se-á um registo da minha actividade, o qual permite monitorizar as nossas actividades diárias. Esta é uma forma pidesca de controlo que, invisível, nos concede uma liberdade frequentemente ilusória.
Isto tudo a propósito do favorecimento de uma classe política que, muitas vezes geração após geração, continua a lucrar com a desgraça dos outros. Vir dizer que teve honra em fazer parte de um processo calamitoso como foi o da descolonização, é não ter vergonha na cara. É triste quando não se assumem os erros cometidos. Essa, sim, é uma demonstração de grandeza. São muitas vezes os pequenos actos que definem a dimensão de um ser humano.
No entanto, tentarei compreender, na medida em que ao assumir os seus erros, estaria a confessar pecados verdadeiramente mortais. E o inferno está a ficar cheio...
Tá?!...
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