Há uns dias atrás, num dos muitos momentos solitários a que me vejo forçado, pude assistir a um spot publicitário de uma rêde de telecomunicação em que as pessoas, personagens do dito, se encontram num casamento, cada um agarrado ao seu telemóvel, sem ligar patavina à cerimónia que supostamente deveria decorrer. Devido às minhas limitações auditivas não percebi muito bem o sentido da coisa, parece apenas que é suposto ser mais importante estar ligado sabe-se lá com quem do que prestar atenção a quem está fisicamente a nosso lado. Esta mesma rede de telecomunicações parece, aliás, ter decidido seguir uma estratégia de apelo ao consumismo a roçar o absurdo. Lembro-me também de uma outra publicidade em que duas crianças brigavam sem que os Pais, aparvalhados perante a situação, soubessem o que fazer. Em vez de presentear cada uma com o velho e antiquado par de estalos e o proverbial "Estejam quietas e caladas...!!!" o paizinho, dotado de capacidade de iniciativa de uma lesma, decide antes oferecer um telemóvel a cada uma.
Que raio de mensagem é esta ? Esqueçamos o mundo real, esqueçamos as pessoas, em geral, e a Família, em particular, e abracemos um mundo estéril e artificial, onde não existem valores, onde a amizade é medida pelo número de vezes que clicamos sobre uma fotografia e onde nada é o que parece ? Um mundo onde é criada a ilusão de que todos podem ser famosos e que isso significa riqueza, apenas pelo facto de serem mais idiotas do que o comparsa da cadeira do lado. Para mim, é caminhar em direcção ao abismo civilizacional.
Nos meus passeios pelo Shopping da zona é estranho, pelo menos para mim, ver quantas vezes as crianças, que já parecem ter tudo, continuam a repetir a palavra "QUERO...".Pior ainda, é ver os Paizinhos cederem, sem discutir, aos caprichos dos rebentos e fazer a sua vontade...
Somado a tudo isto temos a crueldade do mundo da publicidade que apela a um consumismo cego, a ter mais, maior e melhor do que o vizinho. Nem que para isso seja, muitas vezes, necessário penhorar anéis, pulseiras e, quem sabe, até a própria honra.
Gostava apenas que as gerações mais novas não esquecessem o que realmente interessa: Um dia, quando todas as baterias se esgotarem, restará o mais importante - os Amigos que estão a nosso lado e, o mais importante de tudo, o convívio com a FAMÍLIA ...
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