Como a idade foi pesando, o recurso à ajuda da "moleta" permite deslocações na via publica, pelo que, a maior parte do tempo é passado no cantinho da saleta onde "matraqueio" as teclas do meu computador..
Uma encantadora Senhorinha, minha vizinha, Sónia, apercebendo-se que sou um "apaixonado" pelos acontecimentos históricos renascidos aqui em Olhão, como a epopeia que afugentou as tropas francesas invasoras do nosso País, comandadas por Junot, subalterno de Napoleão , e que motivou que valentes pescadores/marinheiros, olhanenses, no caíque "Bom Sucesso", atravessassem o oceano Atlântico, em toda a sua extensão, para levar ao Rei D. João VI, exilado no Brasil, a noticia da independência de Portugal, fez-me a oferta, de um disco, em que vem gravada uma lenda que apaixonou muita gente, e, que, apoiando-me numa programação que o Jornal " O Olhanense" acaba de publicar, com a devida vénia, e respeito, passo a
transcrever:
A LENDA DA MOURA FLORIPES
"No sítio do Moinho do Sobrado, havia antigamente uma casa, onde aparecia â janela, noite fora, uma formosa mulher vestida de branco. O único que se atrevia a andar por aquelas bandas â noite era um sujeito de meia idade - o compadre Zé - que se embriagava e adormecia na rua, sem receio. A mulher de branco aproximava-se do bêbado, fazia-lhe meiguices e até se sentava a seu lado.
O compadre Zé contava a sua hist+oria sem convencer ninguém a deslocar-se ao local para a comprovar. No entanto, o compadre Zé tinha um amigo mais jovem que se iria casar brevemente. Aproveitando-se do evento, promete ao amigo oferecer-lhe um seu terreno como prenda de casamento, caso ele tivesse a coragem de o acompanhar a ver o fantasma.
Este transido de medo, lá foi à aventura atendendo ao grande jeito que lhe fazia a prenda.
Sentou-se numa pedra, junto ao Moinho do Sobrado, e esperou pelas doze badaladas. Nesse momento surge da porta do Moinho uma mulher vestida de branco até aos pés. O vestido terminava numa bainha esfarrapada, a cobrir-lhe os pés descalços A mulher aproximou-se com a face envolta num véu e uma flor nos cabelos loiros..
Julião, assim se chamava o amigo do compadre Zé, pergunta-lhe quem era e donde vinha.
-Sou a desditosa Floripes- respondeu, numa expressão triste.
-O que faz por aqui ?
-Sou uma moura encantada. Quando a minha raça foi expulsa da província, viu-se o meu pai obrigado a partir, sem poder prevenir-me. Eu tinha um namorado que também fugiu e aqui fiquei sozinha, à espera a cada momento que o meu pai me viesse buscar. Numa noite em que esperava, vi ao longe a luz de uma embarcação. A noite era de tormenta e o barco escangalhou-se de encontro aos rochedos. Não era o meu pai que ali vinha, era o meu namorado, que foi engolido pelas ondas. Soube o meu pai deste funesto acontecimento e vendo que não lhe era possível vir buscar-me, encantou-me de lá.
Julião, penalizado com a triste história, logo pensou em oferecer-se para salvar a moura e perguntou:
-Existe algum meio de a salvar?
-Há sim- respondeu a moura.
-Que meio ?
-É necessário que um homem me dê um abraço, à beira de um rio, e me fira no braço contíguo ao coração. Logo que tal aconteça, irei de imediato para junto dos meus familiares. Mas existe uma dificuldade.
-Que dificuldade - perguntou Julião, quase resolvido a ser o seu libertador.
-O homem que me abraçar e me derir terá de me acompanhar até África, atravessar o oceano com duas velas acesas e casar comigo à chegada.
-Isso é que eu não poderei fazer. Já tenho casamento marcado com a minha Aninhas.
-Então continuarei novamente encantada - respondeu a moura soluçando - - Até agora, ninguém se atreveu a tanto sacrifício!
A moura continuou o seu encantamento durante muito tempo ainda, sentada no cais com os pés na água, esperando o seu pai voltar de África. Era por vezes vista no cais, sempre de noite, a conversar com um menino de olhos grandes e com gorro encarnado. Seria o menino algum mouro que ali também ficou encantado ? Ninguém sabe responder.
Alguns olhanenses mais antigos acreditavam tanto nesta lenda que diziam que a Floripes era vista também durante o dia a fazer compras em lojas, onde pagava com uma moeda de ouro e sempre desaparecia sem receber o troco. Ainda hoje, quando alguém por qualquer razão não recebe o troco, se diz "és como a Floripes, não queres a torna".
A Floripes foi também a personificação do medo do transcendente. Quando se quer acautelar alguém, ainda se diz "vê lá se te aparece a Floripes!".
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Este trecho foi copiado, não até ao seu final, mas, quem tiver a oportunidade de ver e escutar a gravação completa em disco DVD, ficará a conhecer mais pormenores, sucintos a esta lenda, como por exemplo, a lenda dizer que Floripes chegou a comer ao coração de um interveniente nos seus amores falidos.
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Aqui fica, uma vez mais, um agradecimento. à encantadora Vizinha SÓNIA, pela oferta de um precioso disco DVD relatando uma das velhas Lendas Algarvias...
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