Durante a nossa existência deparamo-nos com situações limite, perante as quais impomos o nosso livre arbítrio, ou seja, é-nos permitido escolher como reagir, o que fazer ou simplesmente ignorar. Há quem passe pela vida vivendo-a, outros há que preferem deixar a vida passar, escolhendo ignorar os problemas, principalmente se esses problemas forem problemas dos outros.
Vem esta prosa a propósito do ocorrido num espaço de restauração onde me dirijo com alguma frequência. Estava eu, no meu canto a degustar a minha refeição de meio-dia quando assoma à porta do estabelecimento um homem de ar andrajoso, que alguns classificariam como um sem abrigo, um pária da sociedade. Enquanto a maioria preferiu ignorar, houve alguém que, acto continuo, se levantou e, dirigindo-se ao balcão, trocou algumas palavras com as funcionárias. Momentos depois foi-lhe entregue um saco, presumivelmente com comida, que transmitiu ao homem que ainda se encontrava à porta. Este, surpreendido, aceitou a oferta e partiu. Algum tempo depois regressou com o mesmo saco, agora vazio, mostrando agradecimento e tentando provar que toda a comida tinha tido o melhor aproveitamento. Triste foi ver o ar de complacência repugnante da maior parte das pessoas e a atitude da proprietária que expulsou o indigente daquele espaço.
Tal atitude demonstrada pela Jovem ( minha familiar -néta) muito me emocionou pois recordou-me a saudosa Esposa, também Ela capaz de actos de altruismo e humanismo semelhantes. Tal como a Jovem em apreço, também a minha Esposa era incapaz de ficar indiferente à dor alheia. Em contraste com o cinzentismo da atitude da maioria dos presentes, aquele acto de partilha, de querer para os outros o que se deseja para si e materializar esse querer numa acção visivel e com consequências no mundo real e impacto na vida de alguém, foi como um raio de sol no meio de uma tempestade de indiferença e pessimismo.
Uma palavra para a proprietária do espaço: compreendo a atitude, de preservar o bem estar dos seus clientes e, consequentemente, garantir o seu ganha pão. No entanto, é triste ver que chegámos a um ponto em que parece quase aceitável "enxotar" outros seres humanos cujo único pecado, até ver, é uma triste história de vida que os colocou numa situação a qual, seguramente, seriam eles os primeiros a evitar, se pudessem...
Podermos escolher é um privilégio. Aproveitemo-lo. Podemos escolher olhar e ignorar ou olhar e actuar. A minha escolha sei qual seria. E a vossa ?
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