A doce Mulher da minha vida... |
O tempo está a mudar. Ainda é verão mas já se nota alteração na disposição do São Pedro. Vento, por vezes violento, prenuncia mudança e aproximação do outono. Decerto, tudo isto tem influência no estado de espírito das pessoas, situação à qual não estou imune. Confesso, ando irritado e irritadiço. A razão para tal, por muito que a procure, não consigo encontrar. Enfim, deve ser do tempo...
Por vezes sou apelidado de "chato" e "rezingão", sempre a reclamar por tudo e por nada, sempre a choramingar. São estes alguns dos comentários que vou recebendo relativamente às publicações aqui feitas. No entanto, não deixa de ser engraçado o facto, que hoje apercebi, de as minhas escritas sem jeito terem resultado em mais de setenta e uma mil visualizações. Não percebo muito disto, já para não dizer nada mesmo, mas atrevo-me a pensar que a alguém este palavreado serve. Para quê, não sei, até porque números são apenas números e eu nem sou político para me pôr aqui a brincar com esses números.
Confesso também, mas isso já devem ter percebido, que tudo o que tenha a ver com Angola e com a descolonização, dita "exemplar" por quem dela beneficiou, mexe com o meu espírito e também com o meu físico. É verdade, fico fisicamente esgotado quando recordo as injustiças cometidas, das quais também eu fui vítima (talvez não a maior das vítimas mas, ainda assim, uma vítima), durante e após essa descolonização. Todos os dias vemos hoje notícias sobre os migrantes que fogem em massa e desespero dos seus países, devastados pela guerra e pela fome. Mas todos parecem ter esquecido o gigantesco êxodo proveniente das ex-colónias portuguesas e que, envolvendo uma operação de dimensão quase inacreditável para de lá retirar à força quem não tinha a cor de pele ou a cor política certas, gerou milhares e milhares de refugiados. Desses, parece agora não haver memória...
As quase nove décadas de existência que o meu corpo transporta, misturam com frequência a memória de acontecimentos passados. Vívidas recordações acabam, com alguma tristeza, por revelar-se apenas uma colagem irreal de memórias. No entanto, o grande cenário, a ideia geral, essas não desaparecem. Sei bem o que aconteceu, o que perdi, o que não pude ganhar, o que tive de deixar. Mas enfim, é isto a vida, altos e baixos que não podemos evitar. O passado foi lá atrás e resta-me o consolo de tudo o que fiz e disse foi dentro de uma postura de honestidade e integridade que sempre orientaram a minha vida. Isso ninguém me pode tirar e é algo que muitos não podem dizer. A honra não se compra. Por isso, à noite durmo descansado, ainda que possa estar triste, com a minha consciência tranquila. E pronto, por hoje não chateio mais...
Tá?!...
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