Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de a entregar a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, colocou-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregado a carta a Garcia, são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou na carta e nem sequer perguntou "Onde é que ele está?"
Ao contrário da figura, mítica ou verídica, de Rowan, os nossos CTT (sim, nossos mas por pouco tempo, pois é para vender ao desbarato) primam pela falta de interesse e empenho em fazer chegar ao seu destino a correspondência que lhes é confiada.
Noutros tempos, um envelope sem franquia era levado ao seu destinatário, que ficava encarregue de cobrir a despesa em falta, recebendo em troca a desejada correspondência. Recordo inclusive situações em que cartas por mim enviadas, inadvertidamente, sem selos, eram entregues ao respectivo destinatário.
Hoje o dinheiro comanda, mais do que nunca, a vida. É Rei e Senhor. Tudo se vende, tudo se compra, até mesmo o NADA. O interesse corporativo e financeiro é sistematicamente colocado à frente do interesse do individuo.
Incapazes de ver o óbvio, ou seja, a possibilidade da correspondência poder conter algo urgente e inadiável que uns míseros vinte cêntimos não deveriam obstar, os correios limitam-se agora a colar um autocolante sobre o nome do destinatário, ocultando-o, adulterando a informação, devolvendo depois ao remetente. Pergunto: E se não constasse qualquer remetente ? O que fariam ? Seria a correspondência simplesmente destruída ?
Olvidados da sua missão de grande responsabilidade para com a população em geral, os CTT submetem-se a normas de funcionamento de cariz exclusivamente financeiro, relegando para segundo plano a razão da sua existência: Fazer chegar em segurança, ao seu destinatário, a correspondência que lhes é confiada por aqueles que, pelos vistos, ingenuamente, ainda neles confiam...
Aqui fica, como fonte de inspiração, a quem de direito, o filme de 1936, "Carta a Garcia". Pode ser que ajude a perceber que as ideias, as pessoas, interessam mais que todo o materialismo que, infelizmente, nos parece sufocar.
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