segunda-feira, 13 de maio de 2013

Males e maleitas...

Dizem-me que estou esquisito.  Dizem que não tenho boa cara.  Não sei porquê,  não me sentirei hoje muito diferente do que me sentia ontem ou antes de ontem.

A partir de uma certa idade,  não sei precisar bem qual,  parece que todos os males e maleitas nos afectam. É a dor do ombro,  são as costas que nunca deixam de incomodar e aquele mal-estar que volta e meia retorna,  sem se saber bem porquê. As visitas ao médico sucedem-se,  a lista de comprimidos, cápsulas e pózinhos  não para de aumentar. A verdade é que se fazem bem a uma coisa,  acabam por prejudicar outras. Basta ler as  bulas e constatar a interminável lista de efeitos secundários para ficar assustado e pensar  "mas para que é que eu vou tomar esta porcaria ?". É aquele velho ditado: se não morrermos  da doença,  morremos da cura.

Chega a ser cansativo,  tanta visita ao consultório médico  e à farmácia... Será que não há um remédio universal,  que tudo cure,  sem efeitos secundários assustadores ? Se não há,  devia haver.  Não necessariamente o habitual comprimido,  mas,  porque não,  na forma de um gesto simpático,  de um momento de boa disposição ou ainda de amor pelo próximo. Há males que nenhum medicamento cura, são os chamados males da alma,  cujo tratamento requer intervenção diferenciada.

Um acontecimento chocante,  pessoalmente  determinante,  pode causar um mal que,  sem explicação  médica óbvia,  levará ao desgosto  pela vida. Aí não há comprimido que valha. Então,  apenas um simples sorriso,  uma boa notícia no jornal ou,  simplesmente,  sentirmo-nos bem e disponíveis para o dia de amanhã. Nessa ocasião,  e porque a vida remete para caminhos desencontrados,  a companhia de um velho computador ou do cão que insiste em ir passear no jardim, pode ser uma ajuda enorme. No recém lançado jornal Sénior,  nas páginas 34 e 35  vem um artigo intitulado "Manter contacto com o mundo em tempos de solidão". Eu sou disso testemunha, um velho octogenário encontra  num teclado e no monitor uma janela para o mundo,   o meu psicólogo sempre  disponível  para ouvir as historietas que aqui vou contando.

Noutros tempos não seria assim.  Os tempos que correm,  como em todas as eras,   têm coisas menos boas.  Mas também magníficas descobertas que permitem viajar sem sair da cadeira e falar com o mundo todo sem abrir a boca. E assim,  sem precisar de mais um comprimido,  me sinto menos só...

Sem comentários:

Enviar um comentário