Ainda me recordo de, nos meus anos de estudante, em Luanda,
de ter lido um documento oficial, suponho que ainda do tempo de Salazar, no
qual, oficialmente, se extinguia a qualificação de cidadãos de primeira e de segunda,
cuja desigualdade era aplicada, naquela época na então colónia de Angola…
O Domingos era um contínuo, de raça negra, muito estimado
por toda a gente, trabalhador desde a fundação da empresa Sorel, em Luanda, já
de cabelos brancos, mas muito dedicado ao trabalho.
Certo dia foi acometido por doença repentina e houve que conduzi-lo
a Casa de Saúde, para consulta e tratamento adequado.
Calhou, ser a Minha Mulher, Alvarina Teresa, secretária da Administração
na altura, ter sido encarregada, pela Gerência, de cuidar e administrar no que
fosse necessário, para que ao doente nada faltasse.
E assim procedeu, mas… surgiu um impedimento! Não havia
vagas para recolher o doente, pois as existentes eram destinadas somente a
baixas com direito a instalações de PRIMEIRA CLASSE.
Sem a menor hesitação, e a despeito da comunicação da
Empresa relativa a tal facto, Minha Mulher, de imediato, tomou a decisão de
instalar o doente na Primeira Classe, da Casa de Saúde.
Esta atitude, verdadeiramente humana assumida por Ela,
valeu-lhe certas críticas desfavoráveis, assentes na cor da pele do doente, ao
que Ela respondia ”Sou humana e gosto de
fazer bem a quem quer que seja…”
(Esta Grande Senhora, Descansa agora em Paz, no Cemitério
Municipal de Olhão)
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