sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Fruto da época em que vivemos...

Ao vasculhar entre os meus arquivos,  papéis,  gravações áudio  e vídeo, cartas,  enfim,  um nunca acabar de memórias,  revejo momentos que efectivamente fazem parte  de um passado que,  como passado que é,  já não volta. É como a água que corre o rio,  debaixo da ponte. Depois de passar já não volta atrás.  A não ser que algum cientista maluco  invente uma máquina do tempo,  o que lá vai, lá vai,  apenas podendo ser contemplado como uma pintura na parede de um museu da vida.

Esta sensação de que a  vida naquele  tempo,  seja qual for esse tempo, é que era boa,  não me larga. Certamente muitos me chamarão "chato" por estar sempre a falar da mesma coisa,  mas a verdade é que os dias decorriam de outra forma,  sem aquela ansiedade de tentar perceber o que iria fazer naquele dia. Sem computadores,  Internet,  facebooks,  telemóveis e  mais de duzentos canais na televisão (cuja  maioria jamais vemos),   a vida corria mais lentamente,  sem aquele sentimento de que estávamos a perder  alguma coisa.

Hoje temos muito mais do que aquilo que necessitamos. O material é valorizado muito acima  do sentimental e,  no entanto,  vivemos permanentemente insatisfeitos.  Isto deve-se  provavelmente ao facto de,  apesar da procura constante do bem material que,  esperamos,  irá  satisfazer  aquele vazio, esquecermos o bem mais precioso, escasso e não  renovável que é o TEMPO. Vivemos numa vertigem permanente,  sempre com pressa para ir a algum lado sem nunca lá chegar.

Noutros tempos,  sem o facebook e outras ilusões de realidade virtual,  as pessoas viam-se obrigadas a conviver,  conversar e olhar olhos nos olhos,  costume tão  em desuso  nos dias que correm e que para os mais jovens é mesmo desconhecido. Ouço dizer que têm mais de mil amigos e fico surpreso mas rapidamente me apercebo que tudo não passa de uma ilusão criada por mentes cada vez mais solitárias.

Noutros tempos as crianças e jovens saiam de casa,   brincavam na rua,  conversavam e riam. Hoje,  permanecem entre quatro paredes,  mentindo a si próprios,  vivendo uma vida cada vez mais parecida com a de um  vegetal que,  impossibilitado de se mover, permanece no mesmo lugar toda a sua vida.

Consequência  dessa insatisfação,  surgem notícias de que as pessoas andam cada vez mais deprimidas, dependentes de químicos receitados pelo médico apenas para conseguirem suportar o facto de  estarem vivas.  Depois,  surgem notícias  de uma mãe ou de um pai que matou os filhos apenas por não suportar a ideia da vida. Que civilização  é esta em que uma mãe prefere a morte dos seus filhos porque viver é insuportável ?

Uma família destroçada...
Notícias recentes dão conta de que a mulher que matou as duas filhas,  afogadas no rio Tejo, foi detida por infanticídio.  Entretanto,  o marido e pai das crianças já veio a público  acusar a mulher, que o acusara de maus  tratos, de violência psicológica sobre si e sobre  as crianças,  ao impedi-las de ver o pai. No meio disto tudo,  as crianças inocentes,  perderam a vida. Porquê tudo isto ? Que mundo é este que estamos a criar e que  vamos deixar para os nossos filhos e netos ?

Desculpem estes desabafos,  próprios de um Velho do Restelo Grisalho,  triste e cansado,  muitas vezes angustiado com as premonições  que, qual Nostradamus,  vai vendo reveladas perante os seus olhos cansados. Apenas  resta ter esperança  e que o dia de amanhã possa ser melhor do que o de hoje...

Tá?!...

Sem comentários:

Enviar um comentário