sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Como o tempo passou !...

Será difícil fazer entender às pessoas que hoje assistem às notícias que se vão desenrolando diariamente nos muitos telejornais o sentimento que prevalecia entre colegas e amigos em tempos,  na verdade, assim não tão distantes. Até a mim me custa compreender...

Há apenas  quinze anos a Internet era uma curiosidade informática apenas ao alcance de alguns  "maluquinhos" dos computadores. Do facebook isso nem se ouvia falar. Os telemóveis começavam  a vulgarizar-se. Naquela altura  permitiam apenas operações tão básicas como telefonar e enviar mensagens. Aos jovens que nasceram e viveram sempre rodeados de tecnologia  tudo isto parece impossível: Como conseguiam, as pessoas, viver e comunicar ?

Recuando ainda mais, recordo uma vida sem computador,  sem Internet, claro, mas bem mais real, muito menos ou nada virtual. O tempo passava mais devagar,  sem aquela ansiedade de consultar e-mails ou as últimas novidades do facebook. As amizades ou existiam ou não existiam,  ninguém  era amigo de uma fotografia ou de uma pose engraçada num écran de computador.

As notícias de hoje dão conta de mais problemas na Caixa Geral de Depósitos. Parece que querem mudar a Lei para  facilitar a dança dos administradores do Banco. Sucessivamente, nos últimos anos  o Banco Público tem vindo a acumular  prejuízos. Parece  uma caldeira prestes a explodir. Quando isso acontecer,  não vai ser nada bonito de se ver...

Outros tempos,  outras terras,  outros Bancos. Em 1966 surgia em Angola o BANCO TOTTA-STANDARD DE ANGOLA.  Rapidamente passou de um lucro líquido de apenas 40 contos,  em 1966,  para um lucro de 29 mil contos, graças a uma estrutura de 54 balcões e cerca de 810 colaboradores.  De notar que,  ao contrário dos dias que correm,  o lucro registado e avalizado por mim como chefe da contabilidade do Banco era real,  não o resultado de manobras financeiras como é uso nos dias que correm. Todos trabalhavam em grande proximidade e camaradagem.



Menos de 10 anos após a fundação o BTSA desapareceu numa sala escura do Banco de Angola. Deixou em todos um amargo de boca  que nunca passará.

Muito ficou por esclarecer. Pode ser que um dia se faça justiça... Por agora deixo o discurso emotivo e emocionante proferido  pelo Dr. Coutinho Ribeiro por ocasião do almoço-convívio comemorativo dos 50 anos da fundação do BTSA,  que reproduzo com a devida vénia e enorme respeito:

Mais uma vez a Organização resolveu imcumbir-me de dizer umas palavras alusivas a este nosso evento, o que faço com muito gosto e que considero ser um privilégio.




Este Convívio, como os outros realizados em anos anteriores, destina-se a celebrar a Amizade e a lembrar, com saudade, o período da nossa vida passado em Angola, a trabalhar no Banco Totta Standard.




Mas este ano a celebração deve ser especial porque festejamos o primeiro cinquentenário sobre a abertura do Banco, e não vamos certamente festejar outro!

E uma vez que viemos para conviver e não para ouvir discursos, prometo não ser um entrave, ser breve, e não roubar mais do que 5 minutos a esse convívio.




O Banco Totta Standard de Angola, nasceu no dia 26/8/66, e teve menos de dez anos de vida plena, pois durante o ano de 1975, na sequência do descalabro da economia angolana que contínuamente se agravava, acabou intervencionado pelo Governo de Transição em 14/8/1975 e não recuperou mais, continuando a definhar, ate´ entrar em “coma induzido”, confinado a uma sala no Banco de Angola, onde julgo já morreu, em data não divulgada.

Daí, que mesmo os Colaboradores mais antigos, aqueles que fizeram a abertura, tenham uma ligação ao Banco, inferior a 10 anos, e a maioria, não deva ter atingido os 5 anos da primeira diuturnidade.


Mas essa ligação, mesmo curta que tenha sido, foi suficiente para criar os laços que nos fazem querer lembrar esses tempos, 40 a 50 anos depois, e que nos leva, pelo menos anualmente, a tentar estar juntos!




Uma ligação que em média não dura mais de 5 anos mas continua a suscitar saudade ao longo dos mais de 40 anos depois, e forçosamente uma ligação intensa.

E a nossa foi! Foi uma ligação apaixonada, fortalecida por aquilo que conseguimos, em termos da consecussão dos objectivos do Banco e da nossa propria realização profissional, mas também pelo ambiente em que tal foi conseguido.




No que aos objectivos respeita, eles foram ano após ano superados, e tendo o Banco fechado 1966, com depósitos no valor de 220 mil contos e lucro líquido de 40 contos sete anos depois, em 1973, último ano de que tenho elementos, fechou com um valor de depósitos quase 20 vezes superior (4,1 milhões de contos) um lucro líquido quase 720 vezes superior (29 mil contos) 810 colaboradores e 54 balcões.




No que respeita à realização profissional, ela foi conseguida, impulsionada em parte, pelo crescimento do Banco acompanhando o ritmo acelerado a que crescia a economia Angolana, mas assente no entusiasmo, na vontade de aprender e no invulgar espírito de sacrifício, de todos os Colaboradores.




Mas a nossa juventude ” mais ou menos madura” e a sâ camaradagem que então criamos, ajudadas pela distensão própria do clima Tropical em que vivíamos, foram determinantes na criação de um ambiente propício à gestação do sentimento de felicidade que sentíamos, num trabalho de que gostávamos, e numa terra, que muitos de nós sabiam não ser a sua, mas de que gostamos, como se o fosse.




Depois, a forma abrupta, e anormalmente rápida, como tudo ruíu, deixou em nós um sentimento de falta, difícil de ultrapassar, uma espécie de luto inacabado, como acontece quando não se encontra o corpo do defunto, e que leva, contra todas as expectativas a não dar o assunto por encerrado .




E por isso aqui estamos mais uma vez, para dizer que ainda esta vivo o sentimento que nos animava, e reafirmar que não foi por nós, que o fim, foi aquele que foi!




Viemos do Norte a Sul do País, alguns de outros países, uns, como habitualmente, outros, pela primeira vez!


Em nome da Organização agradecemos a presença de todos, com uma saudação suplementar de” Boas Vindas e Voltem Sempre” aos que vieram pela primeira vez e aos que vieram do Brasil e de Angola.




E não posso terminar sem pedir que todos, num minuto de silêncio, façamos uma saudação respeitosa, lembrando com saudade, os colegas que já partiram e, não podem estar aqui connosco.

(Silêncio)

Termino com mais umas palavras para, em meu nome, mas pensando também ser essa a vontade de todos, agradecer aos colegas da Organização, pelo tempo e esforço que anualmente dedicam a esta nossa causa.




Bem hajam, e para eles peço uma salva de palmas.




Até para o ano e muito obrigado pela vossa atenção.

Fotomontagem... (Balancete)
(Nota à parte... Para que vejam o que é realmente o mundo de hoje...)

Este "Balanço", foi por mim assinado, naquela data, como responsável da actividade contabilística do BTSA, o qual foi submetido às Finanças Públicas, em Luanda que o aprovou. Hoje, com perto de noventa anos de idade, acabei por vir a residir  em Portugal, porque, por motivo de saúde, não me foi possível estar presente em Luanda, no dia da Independência de Angola, data em que fui obrigado a tomar um avião, com destino a Lisboa, para internamento hospitalar.
Tempos depois, foi-me impedido regressar ao país onde nasci, Luanda, para continuar  a actividade
 laborar, e, face a isso, por Despacho Ministerial (Salgado Zenha), acabei por ser admitido num Banco, aqui  em Lisboa, como aprendiz, e,  mercê de muitas circunstâncias provenientes da "exemplar descolonização" fui "empurrado" para uma situação de Reforma, com direito a uma  simples pensão, a mínima estabelecida no sector bancário, equivalente ao salário mínimo nacional...    tal como se fosse um simples, APRENDIZ  DA  BANCA ! ..





Tá?!...

1 comentário:

  1. Mais uma vez: MUITO OBRIGADO, Amigo e colega Armando Baptista, por este excelente depoimento de elevada recordação e memória. Grande abraço.

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