terça-feira, 26 de abril de 2016

Onde estava eu no 25 de Abril ?...

Onde estava eu no 25 de Abril  de 1974? Se a memória não me atraiçoa,  fruto da idade de quase nove décadas  e de um esgotamento  nervoso e psicológico que me afectou e levou,  inclusivamente,  a um processo de reforma antecipada,  estaria nessa altura em Luanda,  Angola,  no edifício do Banco Totta-Standard de Angola,  anexo ao Banco de Angola,  desempenhando as minhas funções como bancário e contabilista.

Recordo-me   que foi com grande surpresa que fomos tendo conhecimento,  via rádio,  do que se passava na Metrópole, mas concretamente em Lisboa.  As expectativas eram confusas. Uns imaginavam que tudo não passaria de um fogacho e que a revolta seria rapidamente esmagada,  outros,  entusiasmados com a ideia de  um regime de liberdade e livre expressão,  acreditavam  na instauração de um novo regime. Discutiam-se preferências políticas,  ideias para o futuro,  mas,  no geral,  nunca conseguindo antever o processo de "exemplar descolonização"  que se iria seguir e que a tantos deixou com tão pouco,  fazendo perder o património e poupanças de uma vida.

Tudo parece  hoje muito longínquo,   difícil mesmo de recordar, quase como se fosse  a memória  de um  sonho. Talvez não passe mesmo disso,  de um simples sonho...

                                                      Mas há os contrastes filosóficos  da vida...


 Na tarde solarenga do dia 26 de Abril, mas  já do ano 2016, portanto 42 anos após a revolução que acabou por nos "afogar num Exílio Forçado", principalmente  aos  que sempre lutaram, na vida,   para que a sua terra  Natal  (Angola) atingisse o topo superior do  vértice  da pirâmide, em matéria de esplendorosos êxitos  de  progressos e feliz convivência, dada a sensação, sempre de  tristeza,  de um isolamento e solidão, por nos ter faltado quem mais amávamos na vida, e  que após sessenta  anos   de  um feliz matrimónio nupcial,  Deus chamara à sua Divina Presença,  apoiado na minha "muleta", dirigi-me  à esplanada do  famoso café "Kubo caffe", junto a uma rotunda, em Olhão,  por onde circulam milhares e milhares de viaturas, por dia,  com  destinos incomensuráveis.e, puxando de uma confortável cadeira,  sentei-me sozinho numa mesa, solicitando à encantadora Empregada, um carioca de limão. para passar o  tempo, sossegadamente.

Contudo,  sentadinho lá num cantinho da sala, fui notando que  ao redor das inúmeras  mesas, muitos clientes ( Damas e Cavalheiros) conversavam entre si, e, o silêncio era sempre quebrado  pelas assustadoras vozes  da maioria dos Homens ( e por vezes das Senhoras),  que, conversando, e em voz alta,   pareciam sempre zangados,  e que iam contando,   acompanhando sempre   com gestos ameaçadores, peripécias e "atropelos"  de que se sentiam  vitimas inocentes do que se passara quando conversavam  em  anteriores   reuniões  "amigáveis"...  Mas acho que era tudo só fantasia.  pois  era  a  própria  maneira das pessoas  falarem,  e discutirem, mas sem intenções  de  animosidade alguma.  Os gestos eram, afinal,  tudo... espectáculo .... mas muito  agressivos  e  assustadores !  Era tudo Boa Gente.. Ali não havia  nem canhões, nem  balas, nem bombas  e nem   espingardas... Não passava  tudo  só  de inocentes  gestos  explicativos...



Não admira!.  Vejam só, quando ligarem as televisões,... é só vermos   gente zangada que  surge nos seus programas... é influência colectiva !...



Tá?!...



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