sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Carta a Garcia...

Rowan foi trazido à presença do Presidente,  que lhe confiou uma carta com a incumbência de a entregar a Garcia. De como este homem, Rowan,  tomou a carta,  colocou-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro  dias saltou, de um barco sem coberta,  alta noite,  nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão para,  depois de três semanas,  surgir  do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregado a carta a Garcia, são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: Mac  Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou na carta e nem sequer perguntou "Onde é que ele está?"

Ao contrário da figura, mítica ou verídica, de Rowan, os nossos CTT (sim, nossos mas por pouco tempo, pois é para vender ao desbarato) primam pela falta  de interesse e empenho em fazer chegar ao seu destino a correspondência que lhes é confiada.

Noutros tempos, um envelope sem franquia era levado ao seu destinatário, que ficava encarregue de cobrir a despesa em falta, recebendo em troca a desejada correspondência. Recordo inclusive situações em que cartas por mim enviadas, inadvertidamente, sem selos, eram entregues ao respectivo destinatário.

Hoje o dinheiro comanda, mais do que nunca, a vida. É Rei e Senhor. Tudo se vende, tudo se compra, até mesmo o  NADA. O interesse corporativo e financeiro é sistematicamente colocado à frente do interesse do individuo.

Incapazes de ver o óbvio, ou seja, a possibilidade da correspondência poder conter algo urgente e inadiável que  uns míseros vinte cêntimos não deveriam obstar, os correios limitam-se agora a colar um autocolante sobre o  nome do destinatário, ocultando-o, adulterando a informação, devolvendo depois ao remetente. Pergunto: E se não constasse qualquer remetente ? O que fariam ? Seria a correspondência  simplesmente destruída ?

Olvidados da sua missão de grande responsabilidade para com a população em geral, os CTT submetem-se a normas de funcionamento de cariz exclusivamente financeiro, relegando para segundo plano a razão da sua existência: Fazer chegar em segurança,  ao seu destinatário,  a correspondência que lhes é confiada por aqueles que, pelos vistos, ingenuamente,  ainda neles confiam...

Aqui fica, como fonte de inspiração, a quem de direito,  o filme de 1936, "Carta a Garcia". Pode ser que ajude a perceber que as ideias, as pessoas, interessam mais que todo o materialismo que, infelizmente, nos parece sufocar.

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