segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Indiferenças... como interceptá-las ?

A despeito de por vezes me sentir um tanto "desprezado" quando rodeado de jovens, menos jovens, semi-adolescentes, pessoas mais adultas, e até por  vezes, por "Seniores grisalhos", que entre si,  conversam sob certos assuntos que em nada me dizem respeito e que até  já me criam arrepios, como por exemplo, o Jesus do Benfica ter-se apaixonado pelo Sporting, que os deputados em assembleia legislativa muito se preocupam com a adopção de crianças por gays, que o Senhor "X" deu porrada na sua Mulher, não me sinto, no entanto, de igual forma, com a foto seguinte, pois, no meio de isto tudo, ainda sou beneficiado, apesar de perto dos noventa anos, do carinho e apoio que me dispensam  as minhas queridas Netinhas e Filhos, que não permitem que eu venha a sofrer e morrer à  fome e  que, intimamente, me acompanham na dor que me persegue a todo o instante, por ter perdido, após sessenta anos de um feliz casamento, celebrado em Luanda, com a que mais amei na vida, a saudosa Esposa, Alvarina Teresa.


Tudo isto foi, de certa forma, despoletado  por uma publicação,  mais uma,  no facebook em que,  alguém,  denunciava a morte de um sem abrigo,  aparentemente personagem  emblemática da baixa lisboeta. Joaquim, de seu nome,  morreu sozinho, em silêncio,  algures, numa das ruas por onde deambulava  diariamente, de garrafa na mão.  Poucos darão pela sua falta, mas a  sua partida não passou totalmente despercebida,  como é visível nas palavras  que lhe foram dedicadas nesta hora:

Não te volto a dar a sandes.
DESCANSA EM PAZ JOAQUIM

Foi esta madrugada em plena baixa de Lisboa que morreu Joaquim.
Não era ator nem artista. Não era famoso, nem conhecido. Não tinha fama. Era só o Joaquim.
Era apenas um homem que tinha passado pela guerra, que tinha sido abandonado pela nação e pelo povo pelo qual lutou. Um homem cuja vida era passada entre um embrulho de papel e uma resma de jornais sendo estes o cobertor que noite após noite abraçava o seu corpo cansado das cicatrizes dos homens e das mulheres que por ele passavam e nem um olhar lhe dirigiam.
Era o Joaquim. Homem que não se achava merecedor de uma cama quente, de um duche tranquilizante, de um prato de sopa que lhe apazigua-se o rato que amiúde lhe roía o estômago. Era o Joaquim de botelha na mão, carro do mercado nas unhas com o qual transportava os seus bens mais preciosos.
O Joaquim...
O homem de sobretudo roto, barba comprida entrançada pela sujidade do ar, rugas profundas resultado de uma vida cansada, desnorteada, carente de um ombro amigo, de uma palavra de alento, de um sorriso infantil.
Morreu o Joaquim.
Aquele que sorria para todos sem troco, que brincava aos loucos com plena consciência do seu estado de miséria, aquele cujo os seres passavam e diziam:
- Este é que a leva bem sem preocupações.
Sim...
Foi esse o Joaquim que morreu.
O Joaquim que tu, eu e ninguém quer ser mas que ninguém está livre de lá chegar.
Morreu o Joaquim. Sem honras, sem reconhecimento. Profundamente esquecido por uma sociedade hipócrita e egoísta de falsos principais apregoados a vista de todos e olvidados em privado.
Morreu o Joaquim...
Aquele que um dia pode vir a ser qualquer um de nós.
Morreu e será enterrado em pleno silêncio.
Retirado do facebook

 Ao ler a enunciada publicação,  percebo,  como já disse,  que apesar de tudo,  da tristeza e solidão,  apenas pontualmente  suavizadas pelas visitas da Família,  sou realmente  afortunado. Sobre a minha cabeça tenho um tecto, no frigorífico alguma comida,  a companhia permanente do fiel Pelinha,  a presença amiúde de filhos e netas,  por isso tenho muito mais do que o Joaquim. Sem jamais o ter conhecido,  já sinto a sua falta. Também eu digo,  descansa em Paz,  Joaquim.

Tá?!...

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