segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Livros banidos

Sinto-me vazio. As ideias parecem ter fugido a sete pés. Inspiração é coisa que parece ter abandonado este meu ser. Olho para a janela, céu azul, lá fora,  sol quente, um Verão fora do tempo.  Sopra uma pequena brisa.  Os meus olhos fixam-se,  então,  no pequeno/grande amontoado de relíquias literárias salvas  das garras do esquecimento e dá inutilidade  no último instante. Nessa altura, não sei bem porquê, veio-me à cabeça a figura do Marquês de Pombal que, não podendo acudir a tudo e a todos, tomou a decisão magnânima "cuidem-se dos vivos e enterrem-se  os mortos". Um paralelismo bacoco, eu sei, mas não podendo salvar todo o saber que diariamente vamos deixando escapar  entre os dedos, contemplo os sobreviventes da expurga que baniu da existência de alguma estante aquele grupo de exilados literários.

Tempos houve em que foram decretadas execuções em massa de congéneres livrescos,  sob o pretexto de conterem mensagens subversivas, capazes de transformar dóceis cidadãos anónimos em feras conscientes da sua condição de escravo, aprisionados pelas grilhetas da sua pobreza intelectual, causadora de incapacidade em reagir ao que está manifestamente errado. Regimes auto-sustentados no medo e na ignorância promoveram a queima pública e colectiva de livros malditos, que esperavam ver banidos para todo o sempre. Será este monte, deixado ao abandono, mais um prenúncio de uma era negra, em que o saber é diabolizado, procurando formatar mentes em função da manipulação que se julgue necessária ?

A pirâmide de letras, sob as capas que as guardam, é uma metáfora dos degraus que, penosamente,  teremos de transpor para alcançar o conhecimento. Este pode ser apenas informal, de conteúdo quase banal, mas ao ler a nossa mente pode viajar sem limite, somos então livres. E nesse momento,  podemos dar por nós a imaginar mundos e fundos que julgávamos impossíveis. E, na verdade, o possível e o impossível são apenas construções mentais que podemos ou não realizar. Tudo depende de nós, das escolhas que fazemos ou daquilo que escolhemos ignorar.


"Na noite onde todos estamos, o sábio esbarra com a parede, enquanto o ignorante fica tranquilamente no meio do quarto."
Anatole France 

 Tá?!...

 

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