quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Dinheiro sujo

Nestes últimos dias tem-se falado do caso de uma senhora que foi forçada a esperar dois anos por um exame (colonoscopia),  depois de os médicos terem detectado sinais de possíveis problemas de natureza oncológica no intestino. Tal exame,  segundo declarações de médicos competentes, deveria ter sido feito no espaço máximo de três meses.  Como consequência desta espera, estupidamente prolongada,  a doente acabou por desenvolver um cancro que,  devido às suas dimensões, se tornou inoperável. Neste momento encontra-se a fazer quimioterapia numa tentativa de diminuir a dimensão do tumor de forma a permitir a operação. A notícia foi avançada pelo "Diário de Notícias" e pode ser lida AQUI.

Entretanto as autoridades de saúde dizem que vão abrir um inquérito e  afirmam lamentar a situação.  A verdade é que de lamentos está o inferno cheio e seguramente que quem mais lamenta a situação é a utente do Serviço Nacional de Saúde que se viu colocada nesta situação,  em perigo de vida,  por irresponsabilidade e incúria  de vá-se lá saber quem.

Há quem diga que a culpa é da crise e da política de austeridade consequente. O Ministério da Saúde estará em poupança e por isso corta nas comparticipações  de exames complementares. Custa a acreditar,  até porque numa situação deste tipo  o gasto com quimioterapias,  eventualmente radioterapias e,  se tudo correr bem,  a operação,  tudo isso ficará mais caro. Parece-me que será resultado de uma organização deficiente ou alguma falha na transmissão de informação. Vão ser, dizem,  apuradas responsabilidades mas suspeito,  como tantas vezes acontece,  que a culpa vai morrer solteira. Por outro lado não posso deixar de reparar na aparente imobilidade da doente,  a maior interessada em todo o processo. Não é apresentada grande informação mas aparentemente a Senhora terá deixado passar o tempo sem reclamar, sem procurar fazer valer os seus direitos e interesses. Ou será que o médico que a acompanhou se esqueceu dela?



Outras noticias na área da saúde dão conta de um utente que esteve mais de cinquenta horas nas urgências a aguardar internamento.  Parece que não havia cama para o senhor. Uma familiar entrevistada pela RTP terá dito que alguém lhe confidenciara  que afinal haveria uma cama mas que não estaria a ser disponibilizada por  motivos meramente financeiros,  pois iria ser mais um custo para o hospital.

Tudo parece entroncar na mesma raiz: o dinheiro !... Parece que definitivamente e tristemente  o Euro, o Dolar ou outra moeda qualquer vale mais que uma vida humana.  Quem tem, safa-se,  quem não tem, morre mais cedo. Sempre se poupa no pagamento de mais uma reforma,  pensarão  as grandes cabeças que gerem os nosso destinos...

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