quinta-feira, 6 de março de 2014

Há lendas e lendas...

Como tenho vindo a programar em meus blogues anteriores,  acabei por vir parar , acidentalmente,    de "para quedas",  nesta acolhedora cidade de Olhão, depois de muitas lutas por uma sobrevivência  digna e honrosa,  em Angola (terra onde nasci),   que  por motivos  de saúde ,  só com  o recurso a actos Clinicos especializados em Portugal, na altura das "descolonizações" encontraria  alguma   salvação.

Como a idade foi pesando,  o recurso à ajuda da "moleta" permite deslocações  na via publica, pelo que, a maior parte do tempo é passado  no cantinho da saleta onde "matraqueio" as teclas do meu  computador..

Uma encantadora Senhorinha, minha vizinha,  Sónia,  apercebendo-se que sou um "apaixonado" pelos acontecimentos históricos renascidos aqui em Olhão,  como a  epopeia que afugentou as  tropas  francesas invasoras do nosso País,  comandadas por Junot, subalterno de  Napoleão ,  e que motivou que valentes pescadores/marinheiros,  olhanenses,  no caíque "Bom Sucesso", atravessassem o oceano Atlântico,  em toda a sua extensão, para levar ao Rei D. João VI, exilado no Brasil, a noticia da independência de Portugal,  fez-me a oferta, de um disco,  em que vem gravada uma lenda que apaixonou muita gente,  e, que, apoiando-me numa programação que o Jornal " O Olhanense" acaba de publicar, com a devida vénia, e respeito,  passo a
transcrever:

A LENDA DA MOURA FLORIPES

"No sítio do Moinho do Sobrado, havia antigamente uma casa,  onde aparecia â janela, noite fora, uma formosa mulher vestida de branco. O único que se atrevia a andar por aquelas bandas â noite era um sujeito de meia idade - o compadre Zé - que se embriagava e adormecia na rua, sem receio. A mulher de branco aproximava-se do bêbado,  fazia-lhe meiguices e até se sentava a seu lado.
O compadre Zé contava a sua hist+oria sem convencer ninguém a deslocar-se ao local para a comprovar. No entanto, o compadre Zé tinha um amigo mais jovem que se iria casar brevemente. Aproveitando-se do evento, promete ao amigo oferecer-lhe um seu terreno como prenda de casamento, caso ele tivesse a coragem de o acompanhar a ver o fantasma.
Este transido de medo, lá foi à aventura  atendendo ao grande jeito que lhe fazia a prenda.
Sentou-se numa pedra, junto ao Moinho do Sobrado, e esperou pelas doze badaladas. Nesse momento surge da porta do Moinho uma mulher vestida  de branco até  aos pés. O vestido terminava numa bainha esfarrapada,  a cobrir-lhe os pés descalços A mulher aproximou-se com a face envolta num véu e uma flor nos cabelos loiros..
Julião, assim se chamava o amigo do compadre Zé,  pergunta-lhe quem era e donde vinha.
-Sou a desditosa Floripes-  respondeu, numa expressão  triste.
-O que faz por aqui ?
-Sou uma moura encantada. Quando a minha raça foi expulsa da província, viu-se  o meu pai obrigado a partir, sem poder prevenir-me. Eu tinha um namorado que também fugiu   e aqui fiquei sozinha, à espera a cada momento que o meu pai me viesse buscar.  Numa noite em que esperava, vi ao longe a luz de uma embarcação. A noite era de tormenta e o barco escangalhou-se de encontro aos rochedos. Não era o meu pai que ali vinha, era o meu namorado, que foi engolido pelas ondas. Soube o meu pai deste funesto acontecimento e vendo que não lhe era possível vir buscar-me,  encantou-me de lá.
Julião,  penalizado com a triste história, logo pensou em oferecer-se para salvar a moura e perguntou:
 -Existe algum meio de a salvar?
-Há sim-  respondeu a moura.
-Que meio ?
-É necessário que um homem me dê um abraço,  à beira de um rio,  e me fira no braço contíguo ao coração.  Logo que tal aconteça, irei de imediato para junto dos meus familiares. Mas existe uma dificuldade.
-Que dificuldade - perguntou Julião, quase resolvido a ser o seu libertador.
-O homem que me abraçar e me derir terá de me acompanhar até África,  atravessar o oceano com duas velas acesas e casar comigo à chegada.
-Isso é que eu não poderei fazer.  Já tenho casamento marcado com a minha Aninhas.
-Então continuarei novamente encantada - respondeu a moura soluçando - - Até agora, ninguém se atreveu a tanto sacrifício!
A moura continuou o seu encantamento durante muito tempo ainda,  sentada no cais com os pés na água,  esperando o seu pai voltar de África. Era por vezes vista no cais, sempre de noite,  a conversar com um menino de olhos grandes e com gorro encarnado.  Seria o menino algum mouro que ali também ficou encantado ? Ninguém sabe responder.


Alguns olhanenses mais antigos acreditavam tanto nesta lenda que diziam que a Floripes era vista também durante o dia a fazer compras em lojas, onde pagava com uma moeda de ouro e sempre desaparecia sem receber o troco.  Ainda hoje,  quando alguém por qualquer razão  não recebe o troco, se diz "és como a Floripes, não queres a  torna".

A Floripes foi também a personificação do medo do transcendente.  Quando se quer acautelar alguém,  ainda se diz "vê lá se te aparece a Floripes!".

                                                                ****************
Este trecho foi copiado, não até ao seu final, mas, quem tiver a oportunidade de  ver e escutar a gravação  completa em disco DVD,  ficará a conhecer mais pormenores, sucintos a esta lenda, como por exemplo, a lenda  dizer que Floripes chegou a comer ao coração de um interveniente nos seus amores falidos.
..


Aqui fica,  uma vez mais, um agradecimento. à encantadora Vizinha  SÓNIA, pela oferta de um  precioso disco DVD relatando uma das  velhas  Lendas   Algarvias...

Sem comentários:

Enviar um comentário