sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

... ainda as amizades...


Após uma aturada pesquisa, e porque nisso tinha interesse, consegui encontrar o editorial publicado originalmente no "Jornal de Angola". Passo a transcrever o artigo de opinião que foi publicado na edição de 6 de Fevereiro último.

Editorial

Crescemos juntos

06 de Fevereiro, 2013
Os amigos conhecem-se nos momentos difíceis. Os angolanos sabem estender a mão da amizade a todos os que precisam, sem olhar a conveniências ou retornos. Portugal é um país amigo e mais do que isso: o Executivo definiu-o como um parceiro estratégico. Porque partilhamos um património fabuloso, que é a Língua Portuguesa, ferramenta de trabalho dos poetas Agostinho Neto, António Jacinto, Camões, José Craveirinha ou Alda Espírito Santo, a que proclamou em versos grandiosos que é nosso o solo sagrado da pátria.
Estamos a desenvolver uma cooperação sólida. Os povos de Angola e Portugal estão ligados por laços históricos e culturais. Mas há amizade de fresca data, a que surgiu com o Movimento dos Capitães, que se juntou a nós em 25 de Abril de 1974. Essa amizade é agora tão forte que faz esquecer séculos de colonialismo e seus horrores. O 25 de Abril libertou os portugueses mas também ajudou à libertação definitiva dos angolanos. Os episódios marcantes da História comum têm que ser valorizados na justa medida em que estreitamos os laços de amizade e de cordialidade.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas, está entre nós. E como acontece com todos os governantes portugueses, é recebido com consideração, respeito e amizade. Por ele mas também pelo Povo Português que aqui representa. Ao ouvir as suas declarações ontem, no Palácio da Cidade Alta, não pudemos deixar de pensar no abismo que separa a sua intervenção de outras protagonizadas por políticos com grandes responsabilidades e que descem ao patamar do insulto contra os governantes angolanos, envenenando as relações com ódios e ressentimentos de todo injustificados.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português teve uma atitude que, também pela sua simplicidade, mostra a grandeza do povo que representa. Paulo Portas disse aos portugueses que cá vivem e aos que lutam em Portugal contra os efeitos da crise económica e financeira que, no último ano, as exportações portuguesas para Angola aumentaram mais de 30 por cento e isso contribuiu para ultrapassar a crise em que se encontra mergulhada a Zona Euro e que fustiga particularmente Portugal, querido país irmão, porque a sua economia aberta o deixa particularmente vulnerável.
Temos a certeza de que somos acompanhados pelos angolanos neste voto: que daqui a um tempo, com a cimeira bilateral agora anunciada, Paulo Portas regresse a Angola e anuncie que Portugal saiu da crise e continua a caminhar de mãos dadas com Angola para o crescimento económico e o progresso. Só um povo que sofreu décadas de guerra compreende o sofrimento dos outros. E o desemprego é um flagelo que faz sofrer portugueses e angolanos.
De um lado e do outro, em Angola e Portugal, há esforços gigantescos para criar riqueza e postos de trabalho. Se formos capazes de criar sinergias, vamos seguramente crescer juntos. Portugal tem muito para oferecer a Angola nesta fase da reconstrução nacional. E a colaboração de quadros especializados portugueses e conhecedores de Angola não é o menos importante, pelo contrário. Portugal pode transferir para Angola tecnologia, conhecimento, investigação, mão-de-obra especializada e ajudar a promover o comércio, a agricultura e o turismo, sectores fundamentais na criação de emprego e no
combate à pobreza.
Angola tem matérias-primas que fazem falta à economia portuguesa. O crescimento económico que Angola regista liberta também fundos apreciáveis para investimentos num país que, além de falar a mesma língua e partilhar connosco um mundo de gostos e afectos, é uma potência mundial na área do turismo e desenvolveu serviços ao nível do melhor que existe no mundo. A amizade que nos une tem se servir para crescermos juntos e não apenas para declarações de boas intenções que depois não têm correspondência na vida real, tais são as forças de bloqueio prontas a prejudicar uma relação que se quer exemplar dentro do relacionamento entre África e Europa.
A visita de Paulo Portas mostra que o futuro continua a ser o melhor activo dos dois países. A amizade vai sempre a tempo e os governos de Luanda e Lisboa estão a fazer tudo para que as relações entre os dois países sejam fortalecidas e atinjam o patamar que foi definido pelo Presidente José Eduardo dos Santos: Portugal é um parceiro estratégico.
O que está em jogo é tão grandioso que os pequenos acidentes de percurso, as atitudes disparadas com acrimónia por sectores da política portuguesa, as faltas de respeito e as deslealdades que prosperam em Lisboa contra Angola e nos magoam, não vão conseguir destruir a nova relação que nasceu com o 25 de Abril de 1974, se reforçou com a cooperação institucional e lavou a mancha do colonialismo, abrindo de par em par as portas à amizade e cerrando as páginas dolorosas da dominação colonial. Os nossos irmãos portugueses dizem que a maior conquista do 25 de Abril foi a liberdade. Para nós foi a liquidação do colonialismo e também a liberdade. Isso criou o caldo democrático que alimentou a nossa amizade. Temos tudo para crescer juntos.

Quero acreditar, do fundo do coração, que estas não são palavras vãs, pois, como dizia o outro "palavras, leva-as o vento...".

Infelizmente os políticos são mestres na decepção e na aparência de algo que, frequentemente, não é verdadeiro. Sendo o jornal em questão o órgão oficial do presidente angolano, um político "rato velho", acompanhado, na ocasião por um "ratinho português", tudo isto não passará de marketing político. Se assim for, é pena. Muito teriam, ambos os países, a ganhar...

Em contraponto aos elogios, recordemos que, recentemente, o mesmo jornal publicou, por diversas vezes, artigos nada abonatórios e pouco amigos de Portugal, do qual fica o exemplo abaixo:


"Jornal de Angola" com novo ataque a portugueses

Publicado em 2012-11-30 no  Jornal de Notícias




O "Jornal de Angola" publicou mais um artigo de opinião atacando duramente os portugueses, com comentários xenófobos e críticas a Pacheco Pereira e Ana Gomes.
O texto, assinado por Rui Ramos e publicado na quarta-feira, surge após editoriais violentos. O mais polémico é do dia 12, em que aquele diário criticava o que diz ser uma "campanha contra Angola", após notícias da abertura do inquérito-crime sobre o envolvimento de altos dirigentes angolanos em crimes de branqueamento de capitais.
Depois disso, o diretor do jornal, José Ribeiro, escreveu dois artigos: um contra a imprensa portuguesa; outro, segunda-feira, a atacar "as elites portuguesas" e os políticos, acusando Pacheco de ser "grosseiro e malcriado".
Já na passada quarta-feira, num cenário em que ridiculariza o povo português, Rui Ramos destaca, entre os desempregados, os "largos milhares" que "vão para Alcântara" para tentar um visto para Angola. Além de acusar os portugueses de racistas, diz que quem faz fila para o visto "são os desgraçados, arruinados, miseráveis de um país no abismo" e "outros vivem disto". Os outros são "os candongueiros, os fugitivos dos impostos, mas também os intelectualóides que já foram paridos com um livro na mão". "Passam lá de madrugada" e "ao verem aquela bicha espumam como cão vadio" e "murmuram pretos de merda".
E "ninguém liga a esses pereiras gayvotas de rabo gordo", continua.
Depois, refere-se a Ana Gomes como "uma gaja de Sintra", que "fala de longe aos desesperados de migalhas". E a Pacheco como "aquele Pereirinha gorduxoso esquisito".

Estes "desaguisados" têm sido referenciados por várias fontes e constituem mesmo a origem de algum mal-estar entre Portugal e Angola, leia-se "portugueses e angolanos", expresso em algumas atitudes menos agradáveis de ambos os lados, com inscrições racistas pintadas em paredes e comentários jocosos sem razão real de ser. Mais um exemplo?

Insultos a Portugal continuam no Jornal de Angola


A campanha e os insultos a Portugal e aos portugueses continuam em força no Jornal de Angola. Depois do editorial e dos artigos de opinião do director, José Ribeiro (aqui e aqui), no passado dia 28 de Novembro, foi publicado um novo texto, desta vez assinado por um Rui Ramos que, entre outras coisas, acusa os portugueses de “racistas”, classifica-os de “desgraçados”, “miseráveis”, “candongueiros” e dedica especial atenção a Pacheco Pereira (o “Pereirinha gorduxoso e esquisito”) e a Ana Gomes (“uma gaja de Sintra que está bem instalada na Europa e vem aqui cuspir perdigotos”). Sendo o Jornal de Angola o órgão oficial do MPLA, o partido no poder, estas sucessivas críticas e acusações assumem especial relevância no relacionamento entre os dois Estados. No entanto, não se conhecem reacções por parte das autoridades portuguesas. Fica aqui o texto em questão:
“Privilegiados contra desesperados
28 de Novembro, 2012

Milhares de portugueses desesperados formam diariamente filas intermináveis nos Centros de Emprego e outros largos milhares ainda é noite e lá vão para Alcântara na tentativa esperançosa de conseguir um visto para Angola, a nova Terra da Promissão.
O povo português é tradicionalmente um povo pobre, povo de olhar o chão para ver se encontra centavos, tostões ou cêntimos. Mas de repente votou num poder que lhe abriu as portas do paraíso artificial. Desatou a contrair empréstimos para comprar primeira, segunda e terceira habitação, carros para cada membro da família, computador para cada membro da família, cão para cada membro da família, um telemóvel por cada operadora para cada membro da família.
Os bancos fizeram o seu trabalho de casa, deram empréstimos a cada membro da família, deram cartões de crédito, cinco para cada membro da família, até bebé tem cartão de crédito e empréstimo bancário em Portugal.
Narizes empinados, até pareciam ricos. Parecia que estavam a crescer, a subir. Tinha até motorista de autocarro 463 que não parava na paragem quando trabalhadora cabo-verdiana tocava. Trabalhar para pretos?
Menina mais castanha era chamada de “suja”, vai para a tua terra. Presidente da Câmara de Lisboa apanhou sol desde os tempos dos avós e muitas pessoas chamavam-lhe “o preto da Câmara”. Gostam muito de chamar “pretinho”, gostam mesmo.
De repente acabou a teta da loba, secou, voltou ao que era, como sempre foi: país muito pobre. Quase dois milhões no desemprego para o resto da vida. Prosperam negócios ilegais, nas cervejarias trafica-se droga na cara da polícia, à luz do dia assaltam-se pessoas e supermercados impunemente, a polícia diz que não pode fazer nada.
Então chegam notícias, não de Preste João, mas da teta angolana: tem leite enriquecido.
Chiu, não chama mais preto, eles não gostam e não te dão visto. E então a procissão de nossa senhora da esperança avança para Alcântara, enche o passeio como uma jibóia. Marcam lugar, vão rápido no bar, menina, uma bica bem escura, eu não sou racista. Na bicha só se ouve “eu não sou racista, nunca fui, eu nunca chamei preto a ninguém, acho que me vão dar visto…
Esses são os desgraçados, arruinados, miseráveis de um país no abismo. Outros vivem desses. Os candongueiros, os fugitivos dos impostos, mas também os intelectualóides que já foram paridos com um livro na mão. Passam lá de madrugada quando voltam para casa e ao verem aquela bicha espumam como cão vadio, põem cara de podre e murmuram “pretos da merda”, passam na bicha e trombeiam “aquilo lá é uma ditadura, os chineses comem pessoas…”.
Ninguém liga a esses pereiras gayvotas de rabo gordo. Depois quando acordam a meio da tarde voltam lá – e lá está a bicha – outra bicha interminável, para recolher os vistos, os intelectualóides trombilham de novo, despenteados, casposos e com a boca suja (intelectualóide lusitano não lava os dentes): “ide lá, ide, ide lá fazer filhos mulatos…”
Derrotada em Sintra, à beira da exaustão nervosa, depois de três horas no IC19, Ana Gomes chega a Alcântara e fala de longe aos desesperados de migalhas: “Eu sou amiga de Angola, eu nunca falei mal de Angola, quem falou mal foi o doutor Pacheco Pereira, eu nunca fui à Jamba, eu nunca vi o Savimbi, eu não pus nome de Savimbi no meu filho, quem pôs foi o João…” Os zombies lusitanos não a ouvem, nem a ela nem ao tal Pereira, os ciumentos, os despeitados, os preconceituosos, os vozinhas finas, cheios de raiva por causa daquelas bichas longas, cada pessoa que ali chega desesperada que chega à bicha é mais uma cárie naqueles dentes sujos: “não, não, não estão a chegar mais, doutor, diga-me que não estão a chegar mais…”.
Quem chega atrasado à interminável bicha diária e não ouviu, pergunta quem é aquela nervosa com aqueles tiques esquisitos. Um desesperado lhe diz, desinteressado: é uma gaja de Sintra que está bem instalada na Europa e vem aqui cuspir perdigotos gozando connosco, como aquele Pereirinha gorduxoso esquisito que brinca com a nossa miséria.
Então o desesperado alcança a porta e uma luz se abre, chora de alegria pela primeira vez há muito tempo, sai do mundo escuro dos mortos e entra no mundo luminoso da esperança.”


Afinal, em que é que ficamos ? Somos Amigos ou não ? Ou só somos amigos quando o Portas lá vai em passeio ? Enfim, decidam-se, para bem de todos...



Tá?!...

1 comentário:

  1. Sabe o que são 100 políticos naufragados no fundo do oceano mais profundo? Um bom começo.... ;-)

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