quinta-feira, 23 de abril de 2015

Memórias nunca esquecidas...

Os recentes acontecimentos no mar Mediterrâneo,  com  o naufrágio de várias embarcações,  todas elas muito frágeis e  lotadas de pessoas desesperadas,  em fuga de uma vida de misérias e guerra,  recordou-me um episódio ocorrido há coisa de cinquenta anos,  em que me vi entre a vida e a morte,  juntamente com a minha saudosa Esposa,  Alvarina Teresa,  quando nos fazíamos transportar numa pequena embarcação de recreio,   quando procurávamos capturar alguns peixes para saborear mais tarde.



Felizmente,  como se pode ler nos documentos acima reproduzidos,  tudo acabou em bem, de forma quase milagrosa,  com a intervenção Divina de Nossa Senhora. Pode parecer ridícula a comparação  mas,  ao recordar estes acontecimentos,  posso imaginar a aflição que estes seres humanos que perderam,  infelizmente, a vida  nos recentes naufrágios,  poderão ter sentido. Recordo quase como se fosse hoje o sentimento de impotência e fragilidade perante a força do mar e o destino que parecia desenrolar-se à minha frente. Lembro a sensação de nada poder fazer enquanto era arrastado pelas correntes de um rio caudaloso,  em direcção ao desconhecido,  sem nada poder fazer.

Certamente que estas vítimas do infortúnio,  cujas vidas foram ceifadas por um mar impiedoso,  terão,  também elas,  rogado por ajuda aos seus Deuses e  Santos. Infelizmente,  como sabemos,  as suas preces não foram ouvidas,  quem sabe por também Deus não ter mãos a medir com tanta aflição. É esta aflição que consigo,  apenas,  imaginar,  ao fazer um paralelo com aquilo que me aconteceu.

Na reprodução fotográfica acima  é possível ver,  a vermelho,  o percurso efectuado pela embarcação desgovernada em que eu e minha Mulher nos encontrávamos. Foram  cerca de duas horas de aflição,  de tal forma que,  como descrito,  a minha Esposa chegou,  devido aos nervos, a perder temporariamente a visão. Muitas coisas  me passaram pela cabeça. Imaginava a aflição de filhos e restante família face ao que nos poderia acontecer,  imaginando a sua tristeza. Lamentava a minha sorte,  mas sem nada poder fazer. Agora,  pensemos no que  terão sentido  os seres humanos que perderam recentemente a vida,  numa agonia colectiva. Posso apenas imaginar,  pois tudo o que possa pensar é,  seguramente,  insignificante quando comparado com o verdadeiro drama.

Quase como  um verdadeiro milagre,  tudo acabou em bem para os dois aventureiros,  Armando e Alvarina. Sorte ou  intervenção Divina,  a verdade é que a embarcação foi suavemente guiada por um timoneiro invisível,  acabando por encalhar na margem direita do rio Cuanza. Aí pudemos contar com a solidariedade,  um dos mais nobres sentimentos, de um grupo de pescadores indígenas,  os quais seguiam com o olhar, há já algum tempo,  o desenrolar dos acontecimentos. Quem sabe se não terão, também eles, feito as suas preces e contribuído  para o milagre...

Memórias de outros tempos,  que jamais se apagarão...

Tá?!...

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