sexta-feira, 31 de julho de 2015

Entre o negócio e a confiança (parte 2)

A leitura e publicação de excertos da revista  FEBASE, relativa aos Sindicatos do sector financeiro (Banca e Seguros),  tem despertado em mim recordações de tempos cada vez mais longínquos e levado a reflectir sobre o que é hoje a Banca, para que serve, a quem serve.

Começo por dizer que fui obrigado a reformar-me antecipadamente por motivos de saúde, do foro nervoso,  situação desenvolvida e com origem no local de trabalho. Resumindo,  direi que,  por  me achar injustiçado e  prejudicado,  profissional e financeiramente,   chegou o dia em que não aguentei mais e  "explodi". Quando acordei,  dei por mim numa cama  de um hospital,  sem fazer a menor ideia como  havia lá chegado. Desde então,  jamais fui capaz de regressar ao local de trabalho pois só o  pensar nisso era o suficiente para entrar positivamente em pânico. Sei de casos semelhantes no sector bancário. Será uma doença profissional,  própria do sector ? Como resultado de tudo isto,  para além das consequências a nível pessoal e de saúde psíquica,  acabei por ter que me "contentar" com uma reforma mínima.

Naquele tempo,  um Banco era uma  Instituição  olhada com respeito e até admiração pelos cidadãos,  os quais confiavam ao balcão do seu Banco as suas poupanças,  quase de olhos fechados. Era,  por isso,  o Banco,  visto como algo de confiança a toda a prova. Hoje,  fruto de todos os escândalos que envolvem o sector bancário e financeiro e os seus Gestores de topo,  é difícil  encontrar uma Instituição ou Organismo em  que o cidadão comum  confie menos e que  despreze mais. No entanto,  nunca os Gestores e Administradores referidos foram tão bem pagos  como o são hoje em dia.

O lucro cego...
Enquanto antigamente  o funcionário do Banco era  olhado com confiança,  sendo até procurado para aconselhar em matérias de aplicação de poupanças,  hoje este mesmo funcionário é  visto como um vendedor que apenas procura impingir aquilo que lhe convém e do qual  é preciso desconfiar. A estes Funcionários é exigido, pelas Administrações,  que vendam de forma a atingir objectivos de venda de produtos financeiros,  objectivos esses cada vez mais difíceis,  ou mesmo impossíveis, de atingir. E quem não conseguir tem o destino traçado: o despedimento sumário. Uma triste realidade...

Hoje seria de todo impossível,  a mim pessoalmente,  trabalhar numa Instituição bancária deste tipo. Vai contra os meus princípios e seria mesmo incapaz de dormir descansado pensando que,  para cumprir  os tais objectivos e "salvar a minha pele",  teria convencido  alguém a fazer uma aplicação,  a qual,  provavelmente,  nem seria assim tão infalível.  Enlouqueceria. Prefiro ser honesto e dormir de consciência  tranquila,  ainda que para isso tenha tido que abdicar de uma pensão de reforma mais substancial. Os tempos são  outros,  mas os valores e a ética,  para mim,  mantêm-se.  E assim serei até morrer...

Tá?!...

P.S. - Não se pretende com a prosa acima colocar em causa, seja de que forma for, os funcionários dos bancos portugueses ou outros. Bem pelo contrário, é apenas um constatar das circunstâncias difíceis em que os nossos Bancários exercem a sua profissão, encarando o cliente nos olhos, num cenário de crise dir-se-ia quase permanente e omnipresente. Fazem-no mostrando diariamente a sua coragem. Fazem-no apesar das contrariedades. Fazem-no porque têm que assegurar o sustento das famílias.São eles o verdadeiro pilar do sistema financeiro, não são aqueles que, sentados no alto dos seus gabinetes, decidem quem fica ou quem parte, em nome de um lucro que tem que ser conseguido sempre à custa dos mais fracos. Para os BANCÁRIOS uma palavra de agradecimento e votos de coragem que, nos tempos que correm, é cada vez mais necessária. Bem hajam !!!

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