sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sexta-feira 13 - Capitulo II...

Impulsionado pela leitura de um  amarelecido documento que acabo de encontrar nas velhas gavetas de um armário, que com o tempo, também, se "desmoronou", volto ao mesmo tema que, no blog anterior a este,  tanto "martelei"... o passado,  Não é por vaidade pessoal, mas sim, em tributo e homenagem a um Grande Tio, que tive, que me atrevo a  reproduzir o texto da carta que  me enviou, saudando o meu enlace matrimonial, realizado há 60 anos.  Faço-o, porque,  pergunto a mim mesmo: será que nos tempos actuais possa haver ainda  algum Tio que se disponha a proceder de igual forma ?...

********************************

"Lisboa, 8 de Dezembro de 1953.
  
Meu querido "Armandinho".  - Luanda.
                                                                    Com grande satisfação recebi a tua carta de 20 de Novembro íltimo, que muito agradeço, na qual me comunicas o teu  casamento. 
Que tenhas escolhido bem, é o que antes de mais nada, de fundo do coração mais sinceramente desejo. É claro que "escolher bem" não significa mais do que arranjar  UM OUTRO EU para toda a vida e, portanto que seja tua verdadeira Amiga, que te respeite e acarinhe, por forma a seres justamente compensado dos mímos e cuidados que por vontade de Deus tão cedo te faltaram.
És bom rapaz, sensato e cheio de qualidades,que me deixam antever em ti, um marido exemplar para bem de ambos e orgulho e satisfação de todos nós, que tanto te queremos.
Lamento estar tão distante no dia doze, pois seria meu grande desejo permanecer, uns momentos que fossem, junto de vós, na data em que,  iniciam uma nova vida e, consequentemente que assumem responsabilidades recíprocas e  indescritíveis, para lhes poder dar alguns conselhos que a experiência de 15 anos de casado para tanto me habilitam.
Não quero,  no entanto deixar de lhes aconselhar a CONDESCENDÊNCIA MUTUA , pois considero-a base fundamental para reunir num só, duas pessoas, que muito embora o convívio de algum tempo (namôro) as tenha feito pensar que se compreendem perfeitamente, mas o certo é que, como é aliás legítimo,  entre elas há sempre contradições nas formas de ver e de pensar, nos hábitos e nos princípios que só depois do casamento começam a sentir-se.
É então quando estes "pequenos nadas" começam a surgir que COMPETIRÁ  AOS DOIS,  a imperiosa missão de arquitectarem a verdadeira felicidade conjugal, bastando para  tanto que UM e OUTRO razoavel e sensatamente condescendam e contemporizem as circunstâncias, sem intervenção de terceiros. 
 Não tenho dúvidas de que tudo correrá como penso e desejo,  não obstante não ter tido o prazer de conhecer a tua Noiva,  mas estou  certo que reconheceste nela todas  as qualidade que te possam fazer feliz, como és merecedor e inversamente, Ela encontrou em ti os mesmos perdicados.  Que assim seja, são os votos sinceros destes teus tio e primos.

Mais uma vez recebe montões de beijos e abraços replectos de desejos de infinitas felicidades deste teu tio sempre amigo e dedicado,

                                                                         (Ass. Rogério Carmo Ferreira )

*****************************

 Pois, foi até, com uma lágrima no canto do olho, que  reli  esta "relíquia" carta, que o meu tão querido e saudoso Tio, teve para comigo, quando me casei.

Os seus doutos conselhos, sempre foram respeitados, e, foi precisos que tivessem decorridos sessenta anos de feliz matrimónio para que a Morte quebrasse o solene cumprimento assumido no Altar da Igreja,  no acto do casamento.

AO MEU SAUDOSO TIO E Á MINHA MUITA QUERIDA ESPOSA - QUE DESCANSEM EM PAZ.

Isto sim  !.Isto é que é DIGNIDADE !
Tá?!...

Sem comentários:

Enviar um comentário