sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Caído do Céu ...

Dona Abastança
«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
                                                Pouco a uns a outros nada
                                               «Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

Dona Abastança proclamava fazer o bem e espalhar a caridade, num assomo público de generosidade  mas que não passava de uma ilusão para,  na verdade,  abastar-se a ela mesma. Ao lerem algumas das minhas ultimas publicações, muitos Leitores certamente dirão "mas que grande aldrabão ! Quando se vir na posse dos milhões logo esquecerá as promessas que fez..."

Nada mais falso.  Não está na minha natureza a mentira,  não será aos oitenta e seis anos que irei enveredar por esse caminho. A mentira tem perna curta,  por isso não vai longe.  Para além disso,  nada ganharia com falsidades.  

Já muitas vezes expressei o desejo de que,  numa sociedade de abastança, como a nossa,  nada jamais faltasse a crianças com fome e a pais e mães de Família que muitas vezes não têm o trabalho dignificante que todos merecem.

O Euromilhões tem 116.531.800 chaves possíveis. Será fácil prometer quando o prémio está longe. Para garantir o primeiro prémio teria que gastar  mais de duzentos e trinta  milhões de Euros. Mas fácil igualmente seria cumprir esta promessa de ajudar quem precisa, dar a quem não tem e alimentar quem tem fome.

Provavelmente muitos não necessitados viriam bater à minha porta. Difícil seria julgá-los. Teria que procurar compreender, aceitar e eventualmente ajudar  quem, na verdade,  de ajuda não precisa. Mas a esses caberia o julgamento divino na hora apropriada. A minha parte estaria feita. A minha consciência tranquila...

Aguardo inspiração. Espero que umas quantas apostas feitas aumentem a probabilidade de ganhar apenas o necessário. E a promessa,  essa será cumprida. O comprovativo  aqui fica:


Tá?!

1 comentário:

  1. Pensar nos pobres...
    Pensar nas crianças...
    Um beijo.
    Flor de Alvarado

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